sexta-feira, 1 de abril de 2016

Capítulo 2

Havia se passado uma semana desde tudo aquilo, realmente como ele premeditava, ficaria por pouquíssimo tempo na pousada, ficando menos de um dia ali, sexta-feira passada foi realmente um dia marcante, Dante foi com o Augusto para a pousada e pegaram ali  todas as suas coisas e foi para a casa deles, da mesma maneira que era bonita por fora, também era por dentro, na hora do jantar, antes de se servirem o Augusto tomou a frente para fazer as apresentações, “Este é o Dante, sobrinho da Júlia e primo de vocês, ele irá morar com a gente a partir de hoje, espero que vocês possam se dar bem.” 

Um grande falatório de questionamento tomou conta da sala de jantar, a garota de antes da qual agora tem um nome, Marina, foi a primeira. “Sobrinho? Você nunca nos falou dele, pelo que sabemos você não tinha família” Júlia por sua vez apenas olhava o seu prato de comida, da qual começou a comer primeiro que todo mundo, se negou a responder qualquer pergunta feita ali, o garoto chamado Murilo apenas perguntou aonde que ele iria dormir, e a resposta foi “no quarto de visitas”, mas ainda havia uma figura que Dante desconhecia naquela sala, chamada Aurora, uma garota de seis anos de idade que era legitimamente a única filha de Júlia ali, pois além de ser a cara dela o restante eram apenas enteados.

- Você é bonito! – disse ela do nada em meio o bate boca na mesa, o que tirou um meio sorriso do Dante, pelo menos alguém ali estava do seu lado, foi o que pensou.

Durante toda a semana Júlia não abriu a boca para falar com o Dante, e nem a olhá-lo, ela também passava a maior parte do tempo fora de casa na clínica, e quando ela chegava em casa no fim da tarde, ele já tinha saído para a escola, mesmo assim eles tinham o mesmo habito em comum, acordar cedo.

Dante levantou de sua cama e após tomar um banho desceu em direção a cozinha para tomar seu café, mas notou um aparelho celular em cima da mesa, ele ligou e deslizou o dedo destravando-o já que estava sem senha, na foto de fundo estava Júlia e Augusto, mas ao verificar fotos e redes sociais logadas viu que pertencia a sua tia, ele abriu um leve sorriso e pegou o aparelho indo para a parte de trás da casa, aonde havia uma piscina de tamanho médio, então  foi até a beira dela e começou a bater diversas fotos de si, por fim escolheu a melhor e botou como fundo, voltou para a cozinha e colocou o celular aonde estava e se assentou para tomar o café. Em menos de cinco minutos Júlia desceu e foi tomar o seu café, sentando do outro lado da mesa.

- Bom dia titia – disse Dante de forma alegre para Júlia, que fingiu não ouvir, então Dante voltou a se concentrar no seu café da manhã como se não houvesse falado nada.

Passado alguns instantes, Júlia notou a presença do seu celular em cima da mesa e então pegou e começou a mexer, sua expressão indiferente mudou para a de uma pessoa que estava prestes a tirar satisfações.

- Dante.. o que pensa..

- Bom dia – apareceu o Augusto de trás dela a fazendo parar de falar na mesma hora, afinal ela havia se sentado de costas para a porta não tendo visão de quem entrava.

- Bom dia. – responderam em uníssonos, Augusto se sentou na ponta da mesa e começou a tomar o seu café também.

- Você tem levantado cedo esses dias também, algo em especial?

- Não muito, estou apenas entregando alguns currículos.. – disse Dante sem muita importância.

- Currículos? – Disse com cara de surpresa. – não é tão fácil conseguir algo nesta idade.
.
- Eu sei.. mas eu não consigo ficar parado, como eu trabalhava com minha mãe na loja desde cedo talvez isso ajude como experiência.

- Na loja? Você fazia exatamente o que? – perguntou curioso.

- Ajudava ela na administração, emissão de nota, contagem de estoque, controle do financeiro..

- Nossa.. é um garoto prodígio!

- Eu também vou fazer dezesseis anos em menos de dois meses, talvez isso ajude em algo.

- Sabe Dante, estou pensando em algo.. – Augusto encarava a mesa enquanto de repente a Júlia começou a encará-lo como se quisesse impedi-lo de fazer alguma besteira, mas sem muito sucesso. – Ao invés de ir entregar currículos hoje, porque não vai fazer um teste de emprego?

- É sério? – retrucou Dante animado.

- É apenas um teste, estamos sem um auxiliar administrativo no momento, se você se sair bem hoje nós podemos fechar um acordo.

- Parece ótimo!

- Não. – os dois olharam para a Júlia. – Quero dizer... ele não pode assumir o cargo de um auxiliar... ele não tem idade e nem competência para isso – ela falava de maneira nervosa.

- Obviamente não poderei registrá-lo, mas isso só será decidido se ele passar no teste.

- Sem compromisso, entendido. – concordou Dante e voltou a olhar pra Júlia que parecia aquelas crianças mimadas quando contrariadas.

- Façam como quiserem, eu vou na frente. – Ela se levantou e colocou o celular dentro da bolsa e saiu rapidamente pela porta da sala, enquanto Dante e Augusto saíram logo atrás no carro dele.

Dante podia não conhecer o setor, a nomenclatura utilizada,  mas ele era bom, realmente bom em aprender as coisas de forma rápida, era como se o que fosse falado para ele fosse 90% memorizado de primeira, fazendo assim com que ele executasse o serviço de forma correta sem precisar pedir para que expliquem e expliquem de novo, algumas coisas ele já estava familiarizados, e o resto ele aprendeu. Augusto sempre que tinha um tempinho passava na sala aonde ele estava e se informava com a supervisora do departamento como ele estava se saindo, e as respostas eram sempre positivas. Já a Júlia praticamente não foi vista por Dante no resto do dia, e ao final, ele foi até a sala do Augusto.

- Posso entrar?

- Claro!

Dante entrou na sala do Augusto que era ainda maior do que a sala de Júlia, a decoração era bem similar, como se fosse padrão de toda clínica, e então se assentou na cadeira de frente para a mesa.

- Eu conversei com a supervisora... e parece que eu tive uma boa ideia pela manhã – disse de maneira descontraída.

- Espero que sim.

- Eu gostei do seu serviço Dante – disse se arrumando na cadeira. – Esse vai ser um cargo de confiança, eu não te conheço muito, na verdade conheço muito pouco, mas sinto que é a coisa certa a se fazer.

- Se o meu serviço foi satisfatório, gostaria que avaliasse a partir disso, sem ressentimentos passados.
Dante disse de uma maneira séria, mas não grossa, demonstrou um pouco de frieza mas na verdade era a recusa de um mero favor. Augusto ouviu com atenção aquelas palavras e após alguns segundos conseguiu absorver um pouco do sentimento ou ausência dele que ali demonstrava.

- Você está certo! – disse por fim. – Você é novo mas já tem um caráter formado e uma boa personalidade, isso é bom! Vamos negociar.

Eles então negociaram, Augusto não poderia registrá-lo, porém eles fizeram um acordo de horário, ele iria trabalhar como se fosse um estagiário, seis horas por dia, de segunda a sexta-feira, os dias que trabalhasse por mais tempo ganharia hora extra, e além de tudo o Augusto pagaria o INSS dele por fora, para não ter nenhum prejuízo. Dante não tinha o que reclamar para aquele exato momento, foi uma boa negociação que favoreceu a ambos, ele teria alguém que faria o trabalho de um auxiliar sem receber o mesmo salario e sem registro em carteira, o que já era um bom alívio financeiro, já o Dante teria um emprego, teria a mente ocupada e receberia algo na faixa por isso, foi justo.

[...]

Passaram-se sete meses desde que Dante começou a trabalhar na clínica, já tinha dominado todo o serviço, cumpria os seus horários da maneira correta e conseguia conciliar facilmente o serviço com a escola. Júlia só falava com Dante quando era necessário, senão ela poupava seus esforços, Dante não conseguia entender o comportamento de sua tia, eles “deixaram de ser uma família” quando tinha apenas três anos de idade, é uma idade pouca demais para alguém fazer algo que deixe outro alguém tão irritado com sua presença, porém Dante não gostava de confusão e nem discussão desnecessária, ele também não tinha interesse em falar com ela no momento, então era um impasse.

Dante saiu da sala em que trabalhava com mais duas pessoas, o corredor estava bem silencioso devido ao horário de almoço, então com cautela, ele adentrou a sala de Júlia, como sempre fazia, “saiu para almoçar com o Augusto e deixou sua bolsa no armário destrancado” pensava ele enquanto trancava a porta com calma, acendeu a luz da sala e foi direto para o armário da qual abriu e pegou a carteira de Júlia, colocando dentro de sua mochila, e saiu pelo corredor ainda vazio sem levantar nenhuma suspeita.

- Eai.. conseguiu sair?

-  Sim, estou quase chegando, e você?

- Chego daqui uns dez minutos. – Dante desligou o celular com um sorriso mal intencionado no rosto, mais uma vez ela havia conseguido.

Marina tinha longos cabelos pretos, ondulados que balançavam em sintonia com o seu corpo enquanto andava de forma rápida para chegar em casa, não era nem a primeira, nem segunda e nem terceira vez que cabulava aula para se encontrar com o Dante. A aproximadamente uns quatro meses, eles começaram a se ver as escuras, por mais que morassem na mesma casa, Dante não queria ser descuidado, então fazia questão de tomar o máximo de cuidado, como trabalhava com Augusto e Júlia, sabia exatamente os horários em que eles chegavam e saiam, então era sempre ele que combinava a melhor hora com a Marina.

Ao chegar em casa, Dante logo viu a Marina deitada no sofá, sem seu uniforme, com uma outra roupa, mais a vontade, ela se levantou indo até ele lhe dando um beijo mais afetuoso.

- Chegou rápido. – disse ele a encarando.

- Consegui sair mais cedo pra termos mais tempo. – Dante deu um sorriso safado.

– Eu vou me trocar também, já já eu desço.

- Não é melhor irmos para um dos quartos? – Perguntou a garota com certa preocupação.

- Vamos tentar algo novo hoje.

Ele pegou sua mochila e subiu as escadas, enquanto ela voltou a se deitar no sofá pensando naquelas palavras. Ao chegar no corredor aonde ficava os quartos, Dante olhou para trás pra ter certeza que não estava sendo seguido, então entrou no quarto de Júlia e trancou a porta. Ao abrir sua mochila ele pegou a carteira de Júlia e a abriu, após fuçar um pouco ele retirou uma folha de cheque lá de dentro colocando em seu bolso, e por fim botou a carteira em cima da cômoda do quarto e saiu de lá. Em seguida, ele entrou no seu quarto e escondeu o cheque num lugar que não poderia ser encontrado facilmente, e então se trocou, descendo as escadas e foi em direção á sala.

- Estava com saudades – disse Marina indo em direção a ele, ao se aproximar, passou as mãos em volta da cintura do Dante. – semana passada não tivemos muito tempo... – ela falava de maneira manhosa, como se aquilo tivesse mesmo sido ruim pra ela, e ele sorriu com o jeito inocente da garota.

- Vamos dar um jeito nisso – ele sussurrou próximo ao glóbulo do seu ouvido, o que causou um arrepio na sua pele naturalmente caramelada. 

Ela o encarava como se tentasse descobrir os seus próximos movimentos, então ele a segurou por trás do pescoço de forma calma, mas também provocativa, por baixo dos seus cabelos, a trazendo para ele e a beijando, a mão que estava na cintura por cima da blusa foi para de baixo do tecido, fazendo que com ela gemesse entre o beijo enquanto ele apertava sua cintura nua, eles então aprofundaram o beijo, conforme suas línguas dançavam Dante desceu as suas mãos para as coxas grossas da menina de pouca idade com corpo maduro, a levantando e fazendo com que as suas pernas se entrelaçassem em volta de sua cintura, a levando assim de volta para o sofá, deitando-a, afastando as almofadas em volta.

- Está nervosa? – perguntou de forma mais provocativa do que tranquilizante.

- Estou.. mas de uma forma boa – disse e sorriu, Dante então debruçou o seu corpo contra o dela colocando sua boca em seu pescoço, mordendo de leve, fazendo a respiração da garota ficar mais irregular do que já estava, ela em troca passou a sua mão pelas costas dele por baixo da camisa, arranhando de leve com a suas unhas, como se fosse uma competição, Dante desceu a boca próximo do grande decote de sua blusa, e então..

- O que é isso? – Marina empurrou o Dante de cima dela com o susto, e ambos olharam de maneira suspirante para a porta, e era como se a visão do mal tivesse se materializado ali, era Júlia. – Eu fiz uma pergunta!!! – disse de forma extremamente irritada.

- Está tão velha assim que não sabe mais como faz essas coisas? – ironizou Dante enquanto se levantava de cima da garota.

- Você está muito encrencado moleque – era como se olhar dela pudesse enviar o Dante direto para o fogo - JOSEPHA?

Em menos de um minuto a empregada atravessou a sala correndo ao ouvir o grito de Júlia, ela praticamente não conseguia levantar o rosto para encará-la.

- Pois não senhora.

- QUE PALHAÇADA É ESSA QUE ESTÁ ACONTECENDO NESSA SALA QUE VOCÊ NÃO FEZ NADA?

- Se-senho..

- VOCÊ AGORA É A QUE ENCOBERTA ELES? SAI DE CENA PRA ELES TRANZAREM NO MEU SOFÁ?

- NÃO FALE ASSIM COM ELA! – gritou Marina se levantando do sofá e se aproximando de Júlia.

- ENTÃO É A VERDADE? – Júlia olhou pra Marina e em seguida voltou o olhar para a Josepha – está recebendo algo para sair de cena? VOU TE DAR ALGO PRA FAZER ENTÃO! – Júlia agarrou o vaso que estava na mesa de canto e jogou com toda a sua força no chão, fazendo com que os estilhaços se espalhassem. – TERMINE ISSO E PEGA AS SUAS COISAS, NÃO PRECISO MAIS DE VOCÊ!

.. O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – Gritou Marina se aproximando da empregada que começava a chorar enquanto pegava os cacos na mão. – VOCÊ NÃO É NINGUÉM PRA DEMITI-LA!

- E VOCÊ É O QUE GAROTA? UMA VADIASINHA COM FOGO QUE FICA SE ESFREGANDO NO SOFÁ?

- NÃO É DIFERENTE DE VOCÊ QUE FAZ ISSO COM OUTROS HOME..

Júlia desceu o tapa na cara da Marina, fazendo assim Dante se aproximar das duas.

- EU TE ODEIO JÚLIA, VOCÊ ESTÁ MUITO LASCADA AGORA!

- AÉ?... ESTOU? – disse com cara de quem fosse ainda ganhar uma guerra – abre a boca sobre esse tapa, que eu contou o que você e seu namoradinho estavam fazendo.. quanto a você.. – disse olhando pro Dante respirando fundo – Augusto nunca o perdoaria por isso, pode dar adeus pra essa casa..

Dante a encarava de forma indiferente, mas olhava bem no fundo dos seus olhos, como se lê-se ela por inteiro, até ela parar de encará-lo de volta.

- Saia da frente – disse Júlia empurrando a Josepha que estava a sua frente catando os cacos de vidro e subiu as escadas em direção ao quarto, Marina por sua vez foi até a Josepha.

- Calma.. está tudo bem agora, vai pro seu quarto, deixa que eu cato isso.

- Eu não tenho pra onde ir. – disse a mulher de quase quarenta anos chorando.

- Você não vai pra lugar nenhum, vai pro seu quarto, quando meu pai voltar tudo vai voltar ao normal, ok? – Marina disse e ela concordou com a cabeça se levantando e saindo.

Do andar de baixo eles ouviam nitidamente os passou fortes de Júlia pelo corredor, algo estranhamente incomum.

- Eu já volto.. – disse Dante subindo as escadas fazendo sinal com a mão para que Marina continuasse lá em baixo.

Conforme se aproximava do quarto de Júlia mais alto ele ouvia o som de móveis batendo, e até grunhidos da parte dela, Dante se encostou na parede de frente para a porta do quarto dela que estava aberta, enquanto ele a via andar de um lado para o outro desesperada.

- Procurando algo? – Dante perguntou, Júlia parou o que estava fazendo e olhou para trás, o avistando com os braços cruzados enquanto a encarava com uma cara enigmática. Ela foi andando em direção a ele com o olhar um pouco assustado, demonstrando dúvidas e receios, como se na sua cabeça se passasse mil e uma possibilidades, ela se aproximou dele até ficar cerca de meio metro de distância.. ela abriu a boca, mas por um momento hesitou. – Eu fiz uma pergunta – disse de forma irônica.

- ... você..
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